quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Que bem (mal) que se está no campo

Viver (ainda que temporariamente) numa aldeia onde um habitante pode perguntar ao vizinho mais distante se lhe pode emprestar uma caneca de arroz, sem precisar sair de casa, pode parecer encantador, bucólico, mas afinal pode ser um verdadeiro inferno:

- Durante o dia não se pode sair e fazer "Jogging" e no fim da corrida respirar fundo, a não ser que o cheiro a estrume que queima os pulmões não nos incomode.

- Se quisermos apenas dar um passeio, conhecer novas vistas e novas, ao fim de uma semana já não é possível, nada nem ninguém é-nos desconhecido.

- Caso apeteça durante a noite discutir estratégias a adoptar pelo Sporting para vencer a crise, como obrigar o Paulo Bento a mudar de penteado, não há café, tasco ou taberna que esteja aberta ao público.

- As madrugadas são um suplício: os uivadores espécimes caninos das redondezas manifestam-se em intermináveis disputas vocais; após 3000 latidos de vários tons, durações e proveniências, passa-se a odiar o tal "melhor amigo do homem".

- Como não há mal que sempre dure (ainda que por vezes quase não se dê por isso), a alvorada é a única altura em que se pode realmente descansar, já que até os cães se cansam de o ser e de corresponder com os seus instintos ao apelo da natureza.

- Logo de manhã, porque o dia começa cedo, em vez do pissitar dos estorninho à janela ou do pipilar do rouxinol pousado no ramo da laranjeira, ouvimos sim o buzinar intermitente da carrinha do padeiro ou a constante do peixeiro que nos furam os tímpanos.

Viver num apartamento de cidade também terá inconvenientes, mas isso será para outro artigo. A partir de agora, quando quiser animação irei passar os fins-de-semana em ambiente rural e quando precisar de descansar alugarei um quarto de hotel onde me refugiarei durante pelo menos dois dias com um par de auscultadores a ouvir o som do silêncio!

Um comentário:

nokinha disse...

isso não é ruralidade,não é campo! ;)