Blogs

Existem vários tipos de blogs (ou blogues, não sei): industriais e caseiros.
Os primeiros parecem hipermercados com milhares de entradas em simultâneo, mas com muita gente que anda simplesmente a passear para fazer a digestão do que aconteceu ao longo do dia e não "compra" nada. Também se podem comparar a fábricas de chouriço onde a tripa é artificial e se movimenta por dia toneladas de carne de porco alimentado a ração.
Estas blogs (ou blogues, continuo sem saber) são uma benesse para o ego, pela visibilidade que permitem e pela influência que imprimem em certos círculos da sociedade. Para muita gente a quantidade é a suprema ambição e quanto mais, melhor! São também um escape para quem não pode, no exercício da sua profissão, dizer o que bem lhe apetece. Passam a ser um fardo para muita gente porque para manter expectativas e o interesse de muitos, há que alimentar o bicho com muita frequência! É que os consumistas virtuais são insaciáveis e quererão sempre mais! A liberdade criativa pode ficar ameaçada porque os timings, os acelerados ritmos de actualização passam a ser uma vertigem. Corre-se ainda o risco de se ficar famoso por razões indesejáveis por se acabar com uma queixa no tribunal, independentemente do que se diz ser a maior e mais elaborada das mentiras ou a mais simples e imaculada das verdades!

O portal Sapo difunde diariamente uma lista de escolhidos ou eleitos, apesar de não se saber ainda sob que critérios, mas serão certamente todos menos o da popularidade, já que muitos blogs (ou...bem, não interessa) são recentes e/ou apresentam um valor reduzido de entradas e os donos dos mesmos não agradecem a quem os visita, mas sim a quem os elege! Ficam tão felizes como se finalmente alguém reconhecesse o seu talento e a sua obra de arte, tão empolgados como se tivessem sido apurados para os Jogos Olímpicos!

Os blogs (...) caseiros são mais do tipo mercearia de bairro onde não há de tudo como nos hipermercados, mas os produtos são de melhor qualidade; mercearias e blogs caseiros reflectem o gosto de quem os gere e escolhe os produtos em exposição. São frequentados por muito menos gente, que pode estar algum tempo ausente, mas regressa uma e outra vez, à procura de algo que ali lhe agrada encontrar. Os blogs caseiros não são mantas de retalhos retirados de sites (ou será sítios?), são bordados de pensamentos, imagens, reflexões de alguém que dessa forma vai construindo um retrato da sua concepção do mundo que o rodeia através do humor, da indignação, do reconhecimento, da afirmação, da interrogação, do apoio, da oposição... sustentados por diversos estados de espírito e espelhando distintas fases da vida, tal como as prateleiras de certas lojas que definem um estilo, um gosto, um investimento no que se acredita. Demoram mais a ser actualizados e podem frustrar alguns visitantes à espera de novidades porque são espontâneos; apesar disso há sempre a possibilidade de espreitar o que foi acrescentado no passado, porque são poucos aqueles que conhecem a totalidade dos seus conteúdos.