Passeio
Cascais. Fim de tarde. Beira-mar...
Pai idoso e filho adulto percorrem a marginal.
O aparato policial é grande. Os reis da Noruega de visita a Portugal atracaram no seu iate real junto da marina, mas nada disso se interpõe entre eles e aquele pôr-do-sol intenso.
A conversa entre os dois flui ao sabor do acaso e do encadeamento das ideias enquanto a lentidão e suavidade do seu andar sem destino vai-se dispersando pela calçada.
Dez mil quilómetros separam aqueles corpos por ora juntos, num abraço de ternura só possível quando laços fortes nos unem.
Não é fácil sobreviver quando só se tem a saudade por companhia e se precisa de "esquecer" para não ter de constantemente recordar.
Estar longe, num ritmo, numa realidade de vida diferentes, tornou difícil a sobrevivência.
Quando as oportunidades são sinónimo das escolhas que fazemos e o rumo que damos ao nosso percurso há sempre sacrifícios... e um elevado preço a pagar.
Sentiu a falta que a sua ausência lhes faz, a que os sujeitou, muito antes dessa fase incontornável da vida, em que exaustos, precisariam de descansar e deixar que quem os ama pudesse deles cuidar.
Falar e escrever sobre isso sempre o destroçou porque a alma devolvia aos olhos, todas as lágrimas que o coração guardara ao longo dos anos.
As pernas fracas e cansadas do pai, tropeçaram algures e fizeram-no cambalear, sendo amparado pelo filho.
Naqueles segundos, em que com os seus braços suspendeu a inesperada queda, manteve-se seguro, mas sentiu a força da impotência por saber que não estaria a seu lado para o poder "salvar" de outros tropeções.
O seu peito encheu-se daquele ar marinho, húmido e frio, mas que lhe queimava a respiração como se do deserto se tratasse e ajudou o pai a devolver a dignidade da firmeza, às pernas flectidas.
Aquele passeio era mais do que a caminhada, que ao longo de parte da sua existência não fizeram juntos; era um reencontro sem pressa, sem tempo limite, mas apesar disso, sem futuro, excepto nos corredores da memória que um dia recordará com carinho e nostalgia.
Pais e filhos podem percorrer o mundo em simultâneo, mas nem sempre com a felicidade de juntos, olharem as mesmas imagens e experimentarem as mesmas emoções.
Ah, como é importante a partilha!
Estamos todos de passagem, mas no fim, o que verdadeiramente conta, são as marcas na memória dos que tivemos a honra de conhecer e amar bem como aqueles que nos concederam o privilégio de fazer parte da sua vida e que serão sempre, sempre eternos.
Para ti, meu pai.
Pai idoso e filho adulto percorrem a marginal.
O aparato policial é grande. Os reis da Noruega de visita a Portugal atracaram no seu iate real junto da marina, mas nada disso se interpõe entre eles e aquele pôr-do-sol intenso.
A conversa entre os dois flui ao sabor do acaso e do encadeamento das ideias enquanto a lentidão e suavidade do seu andar sem destino vai-se dispersando pela calçada.
Dez mil quilómetros separam aqueles corpos por ora juntos, num abraço de ternura só possível quando laços fortes nos unem.
Inconscientemente, o filho sempre fugiu à sensibilização e à aproximação emocional que pudessem fragilizá-lo.
Não é fácil sobreviver quando só se tem a saudade por companhia e se precisa de "esquecer" para não ter de constantemente recordar.
Estar longe, num ritmo, numa realidade de vida diferentes, tornou difícil a sobrevivência.
Quando as oportunidades são sinónimo das escolhas que fazemos e o rumo que damos ao nosso percurso há sempre sacrifícios... e um elevado preço a pagar.
Sentiu a falta que a sua ausência lhes faz, a que os sujeitou, muito antes dessa fase incontornável da vida, em que exaustos, precisariam de descansar e deixar que quem os ama pudesse deles cuidar.
Falar e escrever sobre isso sempre o destroçou porque a alma devolvia aos olhos, todas as lágrimas que o coração guardara ao longo dos anos.
As pernas fracas e cansadas do pai, tropeçaram algures e fizeram-no cambalear, sendo amparado pelo filho.
Naqueles segundos, em que com os seus braços suspendeu a inesperada queda, manteve-se seguro, mas sentiu a força da impotência por saber que não estaria a seu lado para o poder "salvar" de outros tropeções.
O seu peito encheu-se daquele ar marinho, húmido e frio, mas que lhe queimava a respiração como se do deserto se tratasse e ajudou o pai a devolver a dignidade da firmeza, às pernas flectidas.
Aquele passeio era mais do que a caminhada, que ao longo de parte da sua existência não fizeram juntos; era um reencontro sem pressa, sem tempo limite, mas apesar disso, sem futuro, excepto nos corredores da memória que um dia recordará com carinho e nostalgia.
Pais e filhos podem percorrer o mundo em simultâneo, mas nem sempre com a felicidade de juntos, olharem as mesmas imagens e experimentarem as mesmas emoções.
Ah, como é importante a partilha!
Estamos todos de passagem, mas no fim, o que verdadeiramente conta, são as marcas na memória dos que tivemos a honra de conhecer e amar bem como aqueles que nos concederam o privilégio de fazer parte da sua vida e que serão sempre, sempre eternos.
Para ti, meu pai.
3 comentários:
um texto que esbanja amor incondicional. Um texto lindissímo. Que apetece ler e reler, até ficar cravado em nós. Na nossa memória. Para aí permanecer eterno.
Ao teu pai e a todos os pais do mundo !!!
Já fiz a experiência de ler várias vezes o texto e, confirma-se, comove-me de todas as vezes. Comove-me o que lá está e o que se intui. Comove-me porque sei, porque sinto,que foi comovente e intenso escrevê-lo. A distância corrói, a partilha é fundamental para dar sentido à existência, mas a força, a grandeza, a bondade, o amor, quando existem não esmorecem nunca. Por nada. Os braços podem não estar sempre lá para dar o abraço desejado mas eles sabem que são suficientemente grandes para atravessar 10 mil quilómetros e chegar,com a força e a dedicação dos laços que não se desfazem.
Postar um comentário