quinta-feira, 13 de março de 2008

A surpresa

Hoje decidi tomar banho de água fria. Não com o propósito masoquista de torturar-me fisicamente e devolver ao espírito a lucidez perdida por uma noite mal dormida, mas simplesmente por não haver gás. As botijas de butano ou propano têm o dom de acabar em momentos cruciais como há hora do banho matinal tal como os carros avariam-se providencialmente em véspera de feriado ou de fim-de-semana...

Bem, voltando ao banho frio: foi uma experiência intensa em que os sentidos foram abanados como se estivessem no meio de um intenso terremoto. Nem que viesse cá a casa aquela menina dos calções curtos e das pernas longas, que acelera o nosso coração ao caminhar em câmara lenta com uma botija ao ombro no anúncio da Galp eu teria "despertado" tanto!

Cinco minutos depois do martírio sentia-me tremelicante, mas revigorado; ao enrolar-me na toalha retratei-me em silêncio para com a humanidade pedindo-lhes desculpa por tê-los considerado porcos e cobardes; também teria muitas vezes fraquejado e desistido de lavar as partes pudibundas (há quem as chame marotas) ou mesmo o todo com água fria, se a cada suplício desses tivesse de sujeitar-me diariamente.

Acredito piamente, que se a Inquisição tivesse usado o banho frio como método de tortura teria obtido confissões de heresias e bruxedos com muito mais eficácia do que outros que hoje fazem parte do passado, da história e do nosso imaginário como paradigmas de sofrimento.

Nenhum comentário: