quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A Guerra

Ontem, ao bater das vinte e duas horas tive a sensação de que muita gente se lembrou de mim e se pacificou comigo. Depois de assistir a mais um episódio dessa excelente série documental da RTP, "A Guerra" senti alguma satisfação por ver finalmente comprovadas algumas das histórias que fui contanto ao longo da vida e que poucos acreditavam.

A crença de que nas ex-colónias os "pretos" eram todos bem tratados caiu por terra. O colonialismo português funcionava à custa de regras que nem sempre estavam escritas e por isso muitos dizem que não existiam.

Muitas vezes os meninos brincavam todos juntos, mas depois o branco viria a ser engenheiro e o preto, apenas mais um criado. Havia relações de afecto, de verdadeira estima, amizade, amor, consanguinidade, mas sempre com carácter excepcional. Quem arriscava ultrapassar as convenções era severamente punido.

A miscigenação era uma realidade e uma das facetas do colonialismo, mas apenas aceite quando o envolvimento se dava entre um branco e uma preta era tolerado, o contrário era impensável! Foi assim que apareceram os mulatos, os curdos de África, sempre estrangeiros na sua própria terra (cá ou lá) por serem filhos de branco aos olhos dos negros e filhos de preto aos olhos dos brancos. De um e de outro lado não era invulgar ouvir dizer "Volta lá pra tua terra!"

Ainda muita História e histórias há para contar, para que não caia no esquecimento tão negro período! Qualquer que seja o nosso passado, relembrá-lo é perceber de onde vimos e entender melhor a nossa mentalidade, apontando assim para um melhor futuro!
Apesar de tudo, a "lusafricanidade" é de uma incomensurável riqueza! Hoje vivemos outros tempos, outros desafios, outras guerras.

3 comentários:

Anônimo disse...

..."lusafricanidade"...

Ontem à noite, a minha Inês, com 15anos, entrou no carro, deu-me um beijo e disse-me nervosa "Mãe, tenho um assunto muito importante para falar contigo. Não sei como começar..."
Pensei numa má nota, num pedido que seria recusado, para ir à discoteca no fim-de-semana...
Enquanto conduzia, esperei calada que ganhasse coragem.

Finalmente, disse que já tinha um namorado. O Henrique. O melhor aluno do 11º ano. Que seria para ela, uma excelente influência, já que era muito estudioso, responsável e bem educado.

Continuei calada. A digerir a novidade. A pensar "a minha filha cresceu!"

Uns dez minutos mais tarde, timidamente, ela acrescentou "Mãe, o Henrique é mulato, mas é lindo!
Não ficas zangada comigo?"

Fiquei muda de comoção...




Encanto

Anônimo disse...

Guerra....Racismo.......Li e relembrei um episódio da minha infância.Escola primária,turma mista(côr:brancos,pretos e mulatos.Mista:sexo masculino e femenino).Professora raça negra.Um dia fui castigada.Naquele tempo usava-se um utensilo de grande serventia e de coaçao elevada,a famosa REGUA DE MADEIRA BEM GROSSA.Esta era redonda preenchida com buracos.Para que serviam os buracos?Ainda hoje não sei........mas que doía isso eu sei porque senti.As réguadas eram dadas por um aluno que a professora escolhia.Colega a castigar outro colega.O meu bom carrasco foi um colega de raça africana que me deu umas reguadas tão leves,que não causaram qualquer dÔr mas que reforçou a camaradagem já existente entre nós.É claro que a Sra Professora não achou piada e exemplificou como deveria ser o castigo.A MINHA MÃO DTA FICOU UM BOLO.Um bolo com o aspecto de bolo que fica tempo a mais no forno.

W. C. Fields disse...

É correcto o que afirma neste post.
Toda esta questão do racismo tem muito que se lhe diga. A começar pela designação. Racismo não faz sentido logo porque não existem raças. A cor da pele é uma adaptação à radiação solar visível e não visível que afecta a pele humana. Mapas dessa radiação mostraram que a maior ou menor percentagem de melanina das populações, é proporcional à radiação. Os nórdicos têm a pele branquinha porque em tempos idos era preciso que assim fosse, para se evitar raquitismo. Os africanos dos trópicos têm a pele escura para evitar afecções provocadads pela radiação fortíssima. Não há diversidade genética suficiente entre os diversos tipos humanos para que se possa falar em raças. Por isso, o tão clamado orgulho branco, negro, vermelho, mestiço, asiático, para mim são... treta!

Infelizmente,os "brancos" acham-se mais que os outros por actualmente gozarem de maior aparato tecnológico e se acharem professores de democracia (ainda que esta seja muito construida em cima de recursos naturais "sacados" a ditaduras").

Os "pretos" acham-se mais que os outros porque se consideram espiritualmente superiores, mais sensíveis, mais heróicos e poéticos, com os seus antigos reinos perdidos nas folrestas paradisíacos das profundezas do Continente Negro.

Os asiáticos acham-se superiores por se considerarem berço da Civilização, porque se acham de castas selectas e pertencentes a religiões "superiores".

Os árabes acham que vão simplesmente conquistar o mundo e converter os infiéis, os que não se rendem ao modo de vida "certo".

E nunca mais acabávamos...
Tudo palermice. A mestiçagem é, ironicamente, um pontapé nesses estúpidos preconceitos. Eu sou português, logo mestiço, e com muita honra!