terça-feira, 30 de outubro de 2007

O país em desenvolvimento

O nosso Governo tem em curso uma profunda reestruturação do país com vista a colocar-nos novamente entre as nações mais prósperas do mundo. Um conjunto de medidas cirúrgicas e de grande eficiência estão a ser implementadas com resultados inquestionáveis!

O sector da restauração, vital e estratégico para a economia do nosso país, vive dias de euforia. Milhares de desempregados estão a contribuir para que as esplanadas dos cafés se encham durante o dia e elevem as taxas de ocupação como há muito não se via. O despedimento de mais de 500.000 pessoas está a devolver ao sector a pujança de outrora. Há que aproveitar este nicho de mercado onde o gigante chinês ainda não decidiu apostar!

Outro sector da economia em franco crescimento é o do comércio de ferragens, ferramentas e afins. Nunca se venderam tantos pés-de-cabra, barras de aço, cordas, arames. O empreendedorismo no assalto a caixas multibanco não pára de nos surpreender e só nos orgulha!

A caça está em exponencial crescimento. A preservação das nossas florestas, a defesa e o respeito pelos habitats naturais têm sido tão bem sucedidos que os animais de caça abundam! Tal como a compra de casa e criação de empresas, através dessa invenção fabulosa, o Simplex, o comércio de armas foi "agilizado" e os armeiros (com ou sem estabelecimento comercial identificado) mostram-se satisfeitos com as vendas! A procura tem sido tanta, que até alguns elementos da PSP se viram obrigados de uma forma solidária a ajudarem à satisfação das necessidades do mercado, com grande sacrifício dos seus tempos livres e de descanso. Até armas de guerra são comercializadas para que assim se consiga derrubar os grandes exemplares da nossa fauna, tais como rinocerontes, búfalos, ursos, elefantes, etc.

Também o turismo regista um saudável e inquestionável aumento, tal como nos diz a quantidade de gorros, balaclavas e luvas comercializadas. Estes são usados em excursões e incursões nocturnas no sentido de desenvolver essa actividade radical chamada Carjacking, tão popular entre a nossa saudável juventude.

O mercado das telecomunicações regista um boom. Ainda esta semana a TMN atingiu os 6 milhões de assinantes. A procura de telemóveis é tanta que há quem não tenhas alternativa e vá "levantar" o seu durante a noite, apesar das lojas estarem fechadas, já que durante o dia certamente estará a trabalhar e a dar o seu melhor para o desenvolvimento do país! O desespero por um aparelho desses é tal que se for preciso até se partem as montras à cacetada!

As novas tecnologias foram adoptadas pela generalidade da população com o estado a dar o exemplo. Toda a administração pública, e bem, está a ser adelgaçada e a ser substituída pelo "E-Government" e por computadores, excepto no que diz respeito a acessores de ministros, secretários, subsecretários de estado, etc., já que todos sabemos que estes têm sempre muito mais trabalho do que o que é humanamente possível despachar. Um pequeno senão é haver falhas generalizadas como a do sistema de caixas Multibanco durante o último fim-de-semana em que o país parou e até houve gente que não almoçou e foi para casa a pé por não poder levantar dinheiro ou pagar com cartão de débito!

O país precisa de estar cada vez mais na linha da frente do processo de globalização. Outra acção de grande impacto no desenvolvimento económico é a venda de computadores portáteis a alunos do 10º Ano e professores, uma excelente medida para que estes obtenham esse objecto tão útil e desejado. Só não se pensou nas empresas e comerciantes do ramo que pagando tudo e mais alguma coisa para manter o seu negócio a funcionar vêem agora o Estado a fazer-lhes concorrência desleal ao vender aparelhos abaixo dos preços de mercado e sem hipótese de competição.

No sector da saúde mantém-se o conceito de gratuitidade impresso na Constituição. Para que os doentes não tenham de pagar pela saúde recorreu-se a uma brilhante solução: fechar os Centros de Saúde e as maternidades! Não se trata ninguém, não se fazem partos a não ser com bombeiros numa ambulância e nas auto-estradas, mas a grande vantagem está no facto de não ter de se pagar taxas moderadoras e de internamento! Ainda assim, quem quiser usufruir desse luxo tem a medicina privada! Somos o país com o sistema de saúde gratuito mais caro da Europa!

Na Educação, grande inovação: a partir deste ano deixa de ser possível discriminar um aluno através da marcação de uma falta. É que os meninos ficavam tão traumatizados que até abandonavam a escola! É a implementação do conceito de ausência inclusiva, uma corrente filosófica que resulta da adaptação da bem sucedida campanha social contra a discriminação "Todos diferentes, todos iguais" em que os assíduos serão tratados de forma idêntica aos faltosos. Os alunos serão "convidados" a prestar uma prova de avaliação caso não sejam presença assídua; ainda não se sabe o que fazer no caso de o aluno não marcar presença na dita, mas com o elevado empenho a que estamos habituados por parte da população estudantil, não é plausível que casos assim ocorram. É perfeitamente compreensível que seja logo nas escolas que se trate de forma distinta professores e alunos: os primeiros ficam sem sem uma hora de trabalho e sem o respectivo salário se chegarem 5 minutos atrasados e os segundos têm direito a um doce, digo, prova (que, adivinhem, terá de ser feita por quem?) Espero que expliquem aos nossos jovens que estes conceitos de (de)formação para a cidadania e para a vida adulta são a brincar, pois quando lá chegarem e se tiverem a sorte de arranjar um emprego, deixarão de receber salário e serão "flexissegurados" em direcção a casa se faltarem ao emprego sem contemplações!

Não quero ser exaustivo e gabar as virtudes das medidas do nosso amado Governo. A vaidade não fica bem e o sucesso fala por si, basta consultar os números do Eurostat, do Banco Mundial, da OCDE. Está à vista de todos, excepto de alguns pitosgas sindicalistas/comunistas em extinção, que em desespero até foram organizar uma greve nos aeroportos de França para tentar dar a entender que os protestos tem fundamento dentro e fora do país! Coitados!

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