segunda-feira, 16 de julho de 2007

A natureza humana

Frequentemente misturamos coisas que nos levam a interpretações que se afastam do que é importante: o Homem é mais um ser vivo na Terra! Vive cada vez mais dependente dos recursos naturais, mas em crescente desarmonia com o resto do planeta. A sua inteligência e a sua capacidade bélica tornaram-no dominante, mas à luz das leis que regulam a natureza e que não são estabelecidas por Si, é mais um elo na cadeia. O Homem tende a atribuir um valor a tudo e a todos os outros seres vivos como se fosse o carácter utilitário destes, o único factor a considerar para a sobrevivência da espécie humana; claro que não é preciso explicar que se considera o mais valioso, o mais indispensável!...Mas amiúde esquece-se de que na natureza tal não tem expressão! Não há quem seja descartável, sacrificável, todos têm lugar, função, razão de ser!... Quanto valem as enervantes abelhas por polinizarem uma floresta mantendo-a viva a fornecer alimento, abrigo, oxigénio entre outras coisas? Quanto valem os horrorosos abutres por limparem das savanas os animais mortos que se aí permanecessem apodreceriam e transmitiriam doenças que se poderiam tornar epidemias? Quanto valem os vorazes pardais por devorarem as larvas dos campos de trigo que nos fornecem o pão e que assim produzem mais? Quanto valem as arrepiantes anacondas que nos livram de boa parte dos roedores carregados de doenças que aumentariam em muito a nossa mortalidade infantil?...Claro que todo este “trabalho” terá o seu preço, afinal também eles precisam de viver e lutar pela sua existência nesta maravilhosa trança de vida e esse custo muitas vezes é negativo para nós; a morte de alguns é uma tragédia, mas não necessariamente antinatural!

Quando falamos de vida em sentido lato (e se não apelarmos para questões filosóficas, apenas biológicas) ela é por si só tão bela e fantástica, independentemente de pulsar de células de um bebé humano como de um bebé golfinho ou outro qualquer, mas parece que a espécie humana continua a achar que tem um desígnio divino neste grão de areia e que o seu crescimento em proporções incontroláveis é e será sempre uma mais-valia que se deverá sobrepor a qualquer outra forma de vida. O estranho é ainda não ter sido possível sensibilizar a humanidade para a urgência de mudança de comportamentos em relação à nossa “casa” que também é a de formas de vida, dispensáveis aos olhos de muitos.

Não concordo que se radicalize o discurso da supremacia da espécie humana quando o preço é a extinção a cada dia de mais uma espécie de animal ou planta, muitas sem que constem dos compêndios científicos. Também discordo da guerra aberta que promovem muitas associações de defesa dos animais, mas creio que só as considerará radicais quem não perceber que todos nós somos terroristas com o nosso consumista modo de vida. O problema é que estamos tão desligados da realidade que não conseguimos perceber a confusão em que estamos metidos! Não fosse assim e a transmissão televisiva da eleição das Novas Sete Maravilhas do Mundo Moderno não teria superado em audiência o Live Earth, a série de concertos em nome da defesa do planeta transmitidos em simultâneo!...

Somos a única espécie que mata por prazer e por ódio e que nega a si mesma de forma consciente a possibilidade de sobrevivência mantendo práticas contrárias à perpetuação; somos a única espécie que não se contenta com o que lhe basta para viver manifestando uma insaciabilidade sem limites; somos a única espécie que arbitrariamente nega a existência a outras formas de vida em nome da sua simples vontade; somos a única espécie que vive em conflito com o meio ambiente como se este fosse hostil destruindo-o sistematicamente; somos a única espécie em que os seus membros não se relacionam em igualdade, rivalizando, discriminando, inferiorizando, humilhando, lutando, exterminando por motivos mesquinhos (mas nobres para muitos) como a religião, a economia, a origem, a condição social...

Ficamos fascinados com as maravilhas da natureza, mas não lhes reconhecemos direito de existência a não ser quando daí podemos tirar proveito. Até já chegámos ao ponto de enclausurar animais em jardins zoológicos tendo como justificação a sua impossível sobrevivência em meio selvagem.

Talvez seja um sinal de grande inteligência, um ser manifestar pelo mesmo objecto, deslumbre e desprezo em simultâneo, mas as consequências podem ser irreversivelmente desastrosas...para os dois!

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